Vamos ter um luto pela falta de consciência. Muitos vão se arrepender de não ter ficado em casa

Em tempos de pandemia de coronavírus, a pergunta “tudo bem?”, costumeira em um cumprimento, nunca foi tão retórica. Neste momento em que o mundo contabiliza, dia a dia, o crescente número de infectados e mortos em decorrência da doença, um terço da população mundial está em casa em quarentena e muito se fala em perdas econômicas adiante. Mas como você está lidando com a pandemia?

A médica espanhola, Ana Cláudia Quintana Arantes, geriatra e especialista em cuidar de quem está muito próximo ao final da vida, prevê que a humanidade passará por três tipos de luto. Além do luto real, das perdas objetivas, ela acrescenta o luto antecipatório —a percepção de que a morte está chegando. “Além disso, vamos ter um luto pela falta de consciência. Muitas pessoas vão se arrepender de não ter tido cuidado antes e vão pensar 'eu poderia ter ficado em casa, poderia ter convencido as pessoas a ficarem em casa”, afirma. “Haverá arrependimento coletivo também”, afirma.

Para a médica, que é autora dos livros: "A morte é um dia que vale a pena viver" (Sextante, 2019) e "Histórias lindas de morrer" (Sextante, 2020), o momento de uma pandemia é peculiar também sob o ponto de vista da morte. “Num cenário de pandemia, não há condição de dar sentido ao processo (da morte). As pessoas vão morrer sozinhas, ninguém vai poder pegar na mão, pois as visitas são proibidas”.

A despedida também já está sendo solitária. No Brasil, os casos confirmados de óbitos pela covid-19 devem obedecer a um protocolo que prevê a não realização de velórios, os corpos devem ser enterrados com os caixões lacrados e a uma distância dos familiares, já que um corpo ainda pode transmitir o vírus até 72 horas após o falecimento. 

Por isso, além das mais de 4.500 pessoas que já morreram com a doença confirmada, até mesmo os casos suspeitos da doença, ou cuja morte se deu por para respiratória ou por razões não definidas, estão passando pelo mesmo processo. A despedida está sendo privada até mesmo àqueles que não confirmaram ter o vírus no corpo. Quem perde um parente que mora longe também encontra dificuldades de transporte para chegar a enterros e despedidas. Há ainda quem está preso longe de casa, num contexto de queda drástica no número de viagens aéreas internas e externas. “A experiência da dignidade no meio disso tudo (da pandemia) está difícil de ser encontrada”, afirma Ana Claudia Quintana.

No meio de previsões ainda tão nebulosas, a médica, enfim, responde à pergunta feita no início. “Como estou lidando com a pandemia? Ajudando a fortalecer as campanhas de solidariedade”, diz. “É o único jeito.”  ( Fonte: El País).

Rodrigo Bessa, à esquerda, no enterro da mãe, Edenir, suspeita de ter contraído coronavírus, no Rio.

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Milan Tomic

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