
Talvez isso tenha sido verdade, no passado. Não agora. Agora, Pelé nem é o brasileiro mais famoso. Nem ele, nem o outro rei, Roberto Carlos. Nem Neymar. Nem mesmo Silvio Santos.
Há outros dois fatores que beneficiam Lula politicamente, além da celebridade que ele conquistou durante todas essas décadas.
O homem mais famoso, entre os brasileiros, é Lula.
Lula subiu no palco em 1979 e nunca mais desceu. Teve um momento de relativa insignificância ao longo do governo Itamar Franco, e só. Fora isso, esteve sob as luzes da mídia que ele tanto aprecia criticar.
É por essa razão que Lula está na frente nas pesquisas de intenção de voto, ainda que seja certo que ele não vai ser candidato.
A grande massa do povo brasileiro é desinformada, quando não iletrada, mas mesmo os analfabetos sabem quem é Lula.
Ainda assim, a popularidade não lhe garantiria a eleição. Lula, tenho repetido, perdeu a classe média que o elegeu em 2002, depois da tão citada "Carta aos Brasileiros", quando havia prometido que seria bonzinho. Hoje, a classe média repudia Lula tanto quanto o temia antes da Carta.
Há outros dois fatores que beneficiam Lula politicamente, além da celebridade que ele conquistou durante todas essas décadas. O primeiro é a pobreza do quadro eleitoral brasileiro. Os principais candidatos a presidente são políticos requentados, nenhum chega exatamente a empolgar, salvo Bolsonaro, que empolga pelas razões erradas.
O segundo fator é o impeachment de Dilma.
A reeleição de Dilma foi péssima para o PT; o impeachment foi ótimo. Se Dilma ainda fosse presidente, seu governo estaria sangrando com a crise inevitável. Ao ser afastada, ela ganhou de presente o discurso de injustiçada, e seu substituto, que, aliás, havia sido colocado lá por ela própria desde 2010, recebeu a pecha de vilão. Temer & cia eram aliados históricos do PT, sempre estiveram juntos do PT, mas, ao assumirem a cabeça do governo, saíram da tranquilidade das sombras para a exposição das luzes. Tornaram-se vitrina. E foram apedrejados.
Temer talvez até pudesse fazer uma gestão razoável, se imitasse Itamar e montasse um governo de expoentes sustentado por uma forte coligação. O problema é que, ao contrário de Itamar, ele foi ativo no processo de impeachment. Desta maneira, Temer tinha dívidas a quitar. Por isso, foi obrigado a se cercar de figuras envolvidas com escândalos ou investigadas pela Lava-Jato.
Foi aí que Lula e o PT ganharam sobrevida: eles transformaram seus velhos aliados em inimigos. O governo Temer, que saiu de uma costela do governo petista, foi elevado à condição de nêmesis do PT.
Então, houve uma terceira ocorrência dramática que beneficiou Lula: ele foi preso. Se estivesse livre, estaria acossado por denúncias, seria visto sentado no banco dos réus, teria de dar explicações a todo momento. Quer dizer: se estivesse livre, Lula estaria respondendo por seus pecados; preso, está pagando por eles. Ou seja: Lula se encontra em processo de remissão.
Na verdade, ninguém, nem mesmo os petistas, acredita na inocência de Lula. Mas, como o que não falta no Brasil são culpados, e muitos deles livres, a prisão de Lula o transforma em mártir para quem o admira e tira-o do foco de quem o detesta.
Repare você, perplexo leitor, como a vida sabe ser irônica: o que parecia maravilhoso foi horrível e o que parecia horrível foi maravilhoso. Uma lição a aprender. Só uma. Outras virão. (Por David Coimbra-ZH)
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