O crescimento do candidato do PSL à Presidência nas eleições 2018, Jair Bolsonaro, no terço do eleitorado que se declara antipetista – como mostra a última pesquisa Ibope, na qual o deputado tem 59% da preferência nesse grupo específico – é movido mais pelo antagonismo desse eleitor ao que representa o PT e o legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que por uma identificação explícita com o "bolsonarismo". A avaliação é de cientistas políticos ouvidos pelo Estado. Para esses analistas, na reta final da eleição, esse voto antipetista pode migrar caso fique claro que Bolsonaro não conseguirá derrotar o PT. Geraldo Alckmin, do PSDB, pode ser um dos beneficiados caso esse fenômeno se concretize.
Entre os brasileiros que não votariam no PT de jeito nenhum – grupo formado por três em cada 10 eleitores –, Bolsonaro cresceu 18 pontos porcentuais desde o começo do mês. O candidato do PSL tem agora 59% das intenções de voto entre os antipetistas – a taxa era de 41% no dia 5 e de 53% no dia 11.
Os analistas consideram que esse crescimento de 18 pontos entre críticos do PT mostra que a rejeição ao campo lulista é maior do que o voto programático no candidato do PSL.
"Esse dado mostra que não há um bolsonarismo no Brasil, mas um antilulismo que, no momento, está identificado na figura do Bolsonaro", diz Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná. "O fato de ele estacionar no eleitorado geral e crescer nesses 30% que não votam no PT mostra que ele não consegue se representar por si mesmo, ele se representa pela negação do outro."
Kléber Carrilho, professor de comunicação política da Universidade Metodista, concorda com a avaliação. "Neste momento, o Bolsonaro consegue reunir a imagem do antipetista ideal", diz. "A paixão antipetista é maior que a decisão de voto no Bolsonaro. É um voto mais antipetista que um voto no Bolsonaro."
O PSDB, que por mais de 25 anos polarizou a política nacional com o PT, foi o maior afetado pelo crescimento de Bolsonaro entre os antipetistas. Nessa faixa do eleitorado, Alckmin tem apenas 10% dos votos, o equivalente a um sexto da taxa do candidato do PSL. Agora, o tucano conta com o crescimento do petista Fernando Haddad contra Bolsonaro no segundo turno - 43% a 37%, segundo o levantamento de ontem - para tentar tirar votos do capitão reformado.
Em entrevistas e sabatinas, bem como no horário eleitoral, Alckmin tem feito um apelo pelo voto útil ao pregar que votar em Bolsonaro é passaporte para a volta do PT, afirmando que o candidato do PSL perderia para qualquer um no segundo turno. O tucano também tem atacado os dois líderes nas pesquisas em spots no rádio e na TV, onde caracteriza ambos como "um salto no escuro". "A pesquisa de ontem mostra que pode haver transferência de votos para outro antipetista porque ele pode não ganhar do PT no segundo turno", afirma Carrilho.
Cervi lembra, no entanto, que os ataques de Alckmin a Bolsonaro podem criar uma espécie de "efeito bumerangue" - quando o alvo dos ataques para de crescer nas pesquisas, mas o autor não é beneficiado com os votos que foram perdidos. Em tese, poderia abrir espaço para o terceiro colocado na disputa, Ciro Gomes, do PDT, que tentou se distanciar tanto do PT quanto de Bolsonaro em declarações recentes.
Estratégia de Alckmin tem dado errado, avaliam analistas
Professora de Ciência Política da PUC-SP, Vera Chaia avalia que o PSDB perdeu o voto antipetista, especialmente em São Paulo, por não fazer o discurso esperado por esses eleitores. "O candidato Geraldo Alckmin não apresentou até aqui a liderança almejada por esse eleitorado nem demonstrou capacidade de vencer o petismo. Nem nas pesquisas, nem em seus discursos. A pacificação defendida por ele não parece ser o que o eleitor quer nesse momento", diz.
O cientista político Rodrigo Prando, do Mackenzie, concorda que o discurso de Alckmin não tem ajudado nessas eleições marcadas pelo ódio e o acirramento entre representantes da direita e da esquerda. "Ele tem o discurso antipetista, mas Bolsonaro tem o discurso antissistema, que parece ganhar mais adeptos hoje", afirma. Além disso, segundo Prando, essa eleição tem sido marcada pela emoção, pelos extremos, e não por debates baseados nas melhores políticas públicas para o País, campo mais confortável para o tucano. "O eleitor quer discurso, não conteúdo."
Segundo Vera, as posições adotadas pelo PSDB ao longo do governo de Michel Temer - como a famosa dúvida sobre desembarcar ou não do governo após o escândalo da JBS - também prejudicam o desempenho de Alckmin, assim como o escândalo envolvendo o senador e ex-presidente do partido Aécio Neves. "E ainda tem o fator João Doria, que além de tentar pegar a vaga de presidenciável para si, não tem feito uma campanha clara para Alckmin em São Paulo. Tudo isso atrapalha demais e acho difícil de ser revertido."
Prando ainda destaca o desgaste natural de Alckmin depois de governar São Paulo por quase 13 anos, em quatro mandatos diferentes, e a demora em investir pesado nas redes sociais. Bolsonaro tem mais de 6,5 milhões de seguidores no Facebook, enquanto Alckmin alcançou 1 milhão apenas ao longo da campanha.
A cientista política também ressalta que a aposta de Alckmin em firmar uma ampla aliança - para obter tempo de televisão - não tem surtido efeito positivo. O tucano tem quase metade do tempo de TV e rádio e 8% na última pesquisa Ibope/Estadão, o que lhe garante apenas a quarta posição na preferência do eleitorado. "O que deve acontecer agora é uma debandada geral desses aliados. Vale lembrar que os partidos que formam o centrão não são exatamente fiéis."
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