Eram 15horas do dia 04 de setembro. As águas do rio subiam rapidamente e com forte correnteza. Estávamos a retirar móveis, pessoas, animais. Pouco depois das 16h, as águas não subiam na mesma velocidade e o rio parecia um grande lago. Não se via correnteza, parecia tudo parado.
Simplesmente uma hora depois as águas voltaram com toda a fúria. Velocidade, quantidade e força. O rio subiu mais de 20 metros em minutos. Como explicar tanta água em tão pouco tempo e com aquela força destruidora? Uma pergunta que seguirá sem resposta.
Nos dias seguintes, em meio aos escombros, aos entulhos, aos galhos e troncos das árvores haviam fragmentos de história. História de gente, de famílias, de momentos de felicidade, de alegria e de conquistas que simplesmente foram destruídas. Tudo destruído. Um sentimento de impotência. As pessoas demoraram anos para construir aquele patrimônio. Em minutos perderam tudo. Nem mais terra, nem mais casa. Nada! A natureza é maior do que o homem.
Quem já perdeu alguém em um acontecimento trágico e brutal sabe bem que o caminho da consolação é longo, tortuoso e, não raro, desesperador. E é justamente aí que emerge uma das melhores qualidades e possibilidades humanas: a solidariedade, o apoio imediato e desinteressado e, principalmente, a celebração do valor da vida e do amor sobre todas as demais coisas.
A vida é mais valiosa que a propriedade, o lucro, os negócios e todas nossas ambições e mesquinharias. Na prática, não é essa escala de valores que predomina no nosso cotidiano. Vivemos em um mundo onde o direito à vida é, constantemente, sobrepujado por outros direitos. Tragédias como essa inundação nos arrancam desse mundo e nos jogam em uma dimensão onde as melhores possibilidades humanas parecem se manifestar: o Estado e a sociedade, as pessoas, isolada e coletivamente, se congregam numa comunhão para tentar consolar os que estão sofrendo. Não é nenhuma religião, apenas a ideia de humanidade se manifestando. De solidariedade, de empatia.
A cheia do rio também ensinou isso.
Essa tragédia não é nenhuma fatalidade: é obra do homem, resultado de escolhas infelizes, decisões mercantis. É impossível dizer por quantas tragédias dessas ainda teremos que passar. Tomara que não mais.
Talvez nunca aprendamos com elas e sigamos convivendo com uma sucessão de eventos desta natureza, aguardando e torcendo para que a próxima não seja pior.
A tragédia nos deixa sem palavras. Mas ela nos diz, insistentemente: é preciso, sempre, cuidar dos vivos e da vida.
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